segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Diz-me, porque não nasci igual aos outros, 
sem dúvidas, sem desejos de impossível? 
E é isso que me traz sempre desvairada, 
incompatível com a vida que toda a gente vive. 
Florbela Espanca




O amor é sofrimento!
Ela me disse assim de supetão e, quando questionei, num átimo seus olhos azuis como o aço me fuzilaram: claro que é!
Fiquei intrigada o dia todo. Tanto porque eu, mulher balzaquiana, já tinha me dado conta disso - embora tentasse negar - em muitos níveis. O que me chocou foi a certeza, refinada, da aluna, uma garota nos primeiros meneios por esse estranho caminho tortuoso e espinhoso do amor.
As pessoas são bem precoces hoje em dia...
Ou eu sou ingênua, lenta?

Estava assim, nesse ritmo analógico, a fazer conjecturas delirantes sobre o assunto, quando ela tocou meu ombro e disse: não pense tanto, professora.

Eu sou  professora, doutora? Só faço isso, só sei fazer isso: pensar!

Será o raciocínio inimigo do amor, de fato? E aos que preferiram estudar, nega-se o amar?

E já mergulhava eu novamente no universo infindável dos meus devaneios - que, de tão complexos, não me levavam a lugar nenhum - quando percebi que ela sorria.
Segundos se passaram e aqueles olhos cinzas e frios me fitaram...

- Uma vez me disseram, profa, que eu não considerasse prioridade quem me tratava como segunda opção.
E eu pensei: fora isso, o resto é amor? Deveria ter um doutorado nessa área, talvez eu me desse bem aí...

Saldo: coisas insólitas me acontecem, recados que saem da boca de pessoas inesperadamente... mundo estranho esse...


quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Como quando a chuva passa...


Sentia uma espécie de deleite após o choro.
Por que, nesse mundo todos dizem "não chore"?
Chorar é bom, as lágrimas são rios interiores que as vezes transbordam.
Como os rios têm duas margens, nem todo choro é de tristeza.

E ela chorava muito.
De emoção, de alegria, de compaixão, de tristeza.
Chorava rindo.
Chorava no cinema.
Chorava na volta.
Chorava indo...

Chora ainda
de saudades.
As vezes chora de vaidade, de teimosia, de capricho.
Mas o choro é grátis, deixem que chore
em paz.
Porque não se chora apenas no conflito, na injustiça ou no desamor.

Que pobreza interior
chorar só por tristeza ou por dor de amor!

E continuava ela, apreciando o deleite aliviante que vem do choro.
Como quando a chuva passa,
E tudo parece mais claro, vibrante, verde, fresco.
Renovado.

Como quando depois da tempestade se encontra,
batendo contra a miragem,
trazida pelo mar,
uma mensagem numa garrafa.

sábado, 13 de agosto de 2011

A poesia está morta e juro que fui eu.



As emoções são cavalos selvagens.
São lobos, soltos, correndo na estepe.
As emoções são ardilosas e espertas raposas.
Velhas...
Quando se pensa que caíram nas armadilhas,
Que se as mantém sob controle,
Eis que surgem quando menos se espera.
Velhas...
Irrompem como forças da natureza.
Sem haver nada que as estanque, que as detenha.
Seguem abrindo trincheiras,
Sem qualquer aviso de delicadeza.
Essas velhas...
Queria matar essas emoções,
Cometer velhecídio.
Furá-las, até que secassem, com o punhal/racional.
Eu seria a primeira assassina em série de emoções.
Começaria matando você leitor, agora mesmo.
Depois, a possibilidade de existência destas frases que escrevi.
Mataria, sem prazer algum, a poesia e os poetas.
Por fim, mataria o amor e o amado.
E, nada mais sobrando de sentido,
Tudo assim desfigurado,
Matar-me-ia infinitamente...

E se a poesia está morta, juro que fui eu.