segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Bem que eu dizia

Te disseram pra comprar as tais ecobags? Não seja trouxa! Reproduzo artigo do Estadão, o autor é o ambientalista Denner Geovanini.
Fonte: http://blogs.estadao.com.br/dener-giovanini/as-sacolas-plasticas-e-os-engodos-ambientais/



AS SACOLAS PLÁSTICAS E OS ENGODOS AMBIENTAIS

Quem não tem “saco” para ler algumas verdades inconvenientes, como diria o biodesagradável Al Gore, é melhor parar por aqui. Bom. Dado o aviso, siga adiante por sua conta e risco.
No tempo do politicamente correto, a onda é navegar em campanhas ecológicas bem produzidas e que possuem um forte apelo emocional. Nelas, o cidadão é arrebatado pelo chamado da consciência e motivado a contribuir heroicamente para a salvação do planeta.

Campanha: USE MAIS PAPEL HIGIÊNICO E GANHE ECOBAGS!
Muito bem. Muito bonito. E muito inútil e ardiloso também.
Inútil por que em momento algum essas companhas instigam o consumidor a refletir sobre o seu padrão de consumo. Sobre a real necessidade de adquirir esse ou aquele produto.
Ardiloso por que, na base dessas campanhas, está um preceito muito caro para as empresas: o consumo. Então, munidos de apelos sentimentais, os marqueteiros se lançam a convencer o consumidor a comprar produtos ecologicamente corretos. Eu disse, e repito: comprar!
E ai está o segredo que sustenta o interesse da maioria das empresas nessa onda ambientalmente correta: comprar mais. Elas descobriram um novo filão para aumentar as suas vendas e, de quebra, ainda dão um suporte psicológico para que o consumidor possa gastar seu dinheiro acreditando que o está fazendo por uma boa e justa causa.
Aposto que o leitor nunca viu um anúncio dizendo: Você vai trocar de carro? Não, não faça isso. Será que o seu carrão não dura mais um pouco? Faça revisão, mas não compre um novo agora não. A realidade é outra. A mensagem do anunciante é: COMPRE o novo carro X que polui menos! COMPRE o xampu Y que é feito com essências da Amazônia. COMPRE. COMPRE. COMPRE.
Lamento caro leitor, mas na onda do politicamente correto, você faz o papel de trouxa. Ou pelo menos é assim que muitas empresas e certas ONGs enxergam você.
E o que as sacolas plásticas tem a ver com isso?
Elas, as sacolas plásticas, ilustram bem o sentido mercantilista por trás de tais campanhas ecológicas. Elevadas a categoria de vilãs da ecologia, as sacolinhas mereceram até um contra-ataque governamental: a campanha “Saco é um saco”, do ministério do Meio Ambiente, na época em que o seu titular era o ministro Colete Minc.
Pois bem. Nem vou entrar no espetacular e elaboradíssimo mérito criativo do nome dessa campanha. Mas o fato é que se gastou dinheiro público para convencer o consumidor a pagar por algo que antes ele tinha de graça, ou quase isso: sai a sacola plástica e entra a ecológica EcoBag!
Os supermercados agradeceram de joelhos. Agora podem vender EcoBags coloridas, e aumentar seus lucros, ao invés de disponibilizar para o consumidor as tais sacolinhas.
Mas uma vez, muito bem. Muito bonito. Só que inútil e ardiloso.
Ardiloso por que o Ministério do Meio Ambiente optou por seguir, mais uma vez, o caminho da espetacularização e do apelo midiático ao invés de promover a reflexão ambiental no consumidor. Para o MMA, foi mais fácil colocar a culpa das desgraças ambientais brasileiras nas pobres sacolinhas, do que investir em educação ambiental nas escolas.
Inútil por que esse tipo de campanha, apesar de ter receptividade na sociedade, não contribui em nada para melhorar os nossos índices de qualidade ambiental. Pode, inclusive até piorar.
É o que aponta um sério estudo da Agência Ambiental britânica, divulgado esse ano. O documento aponta que o PEAD (Polietileno de Alta Densidade), utilizado para fabricar as sacolas plásticas, é muito menos nocivo ao meio ambiente do que as matérias – primas utilizadas na fabricação das Ecobags. E põe menos nocivo nisso: o PEAD é 200 vezes menos prejudicial ambientalmente e emite apenas um terço de CO2 se comparado as Ecobags.
Para quem desejar conhecer melhor o relatório do governo britânico, basta acessar:

Concorde ou não o leitor, o fato é que nos faltam políticas públicas eficientes e honestas para enfrentarmos os desafios ambientais que temos pela frente. No meio ambiente ainda está valendo a máxima da política: fazer esgoto ninguém quer por que não aparece e, consequentemente, não rende votos.
Continua sendo mais fácil, e mais convincente, fazer campanhas inúteis e passageiras, do que investir em reciclagem ou em legislação de resíduos sólidos. É mais vantajoso culpar sacolinhas plásticas do que multar (e desagradar) empresas mentirosas e irresponsáveis ambientalmente.
Não estou aqui fazendo apologia da sacola plástica. Longe disso. Mas até hoje não consegui ter coragem para colocar o cocô do meu cachorro ou o lixo da minha cozinha dentro de uma Ecobag.
Para finalizar, deixo aos leitores uma bem-humorada (e inconveniente) reflexão sobre as sacolas plásticas produzida pela equipe do site Parafernalha. Com a palavra, a sacola:


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Por não ser rosa



Eu sou a margarida do campo.
Com sol no miolo, com luz nas asas.
Sou feita de haste fina e delicada,
De tantas pequenas raízes.
E, se o solo é fértil,
Floresço!

Se não há o podre chão
onde fervilha a vida,
Se não há lágrimas do céu,
Se não há o peso da luz,
Me curvo e seco.

Sou a margarida que balança
Quando o vento me golpeia,
Eu danço.
Simplesmente danço.
Às vezes com uma alma leve,
Borboleta,
Pousada sobre meu centro.
E dou.
Eu simplesmente dou.
Para quem, depois de beber meu néctar,
Vai-se sem nem dizer
Obrigado.

Tantas almas bebem em mim,
E não tenho tanto para dar.
E se não tenho tudo,
Desfazem-me, falam mal de mim...
Ah, como nessas horas, minha delicada constituição
Pesa-me mucho.
E eu queria ser rosa,
Não margarida.
E espetar com espinhos os atrevidos,
E ser quase inacessível aos hipócritas. 

domingo, 18 de setembro de 2011

O segredo das nuvens



E não é que quando passam as nuvens,
Velozes,
Todo o resto parece cair?
Parece que passam,
Movendo-se de lá para não se sabe bem onde...
E quando elas, majestosas nuvens, tomando o céu
O resto afagam o rosto,
De leve,
Levam consigo teu nome.

Arrastam, ajudadas pelo vento,
A chuva
Que um dia me encharcou.
Que se misturou às lágrimas,
Que doeu na alma.
Será que levam tudo, poderosas nuvens?
Achas que te levam para longe,
E que meu rosto apagam,
Em sucessivas camadas
De seus véus?

Mas não há, amor,
Nuvem, nem lago,
nem poço, nem trégua.
Não há nada para além deste tempo
Em que gritam os sinos de vento.
Em que enfunam as velas dos barcos,
Que rasgam qualquer folha e afundam qualquer razão.
Não há, coisa alguma, meu amor, que não seja o alto
Lá onde habitam as nuvens.
Não teu cais, nem teu poço.
Diria portanto o Neruda do mar, lembrando-se de ti:

“Não temas, não caias
De novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
E deixe que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
Sem que tu a dirijas,
Porque foi carregada com um instante duro
E esse instante será desarmado em meu peito.”

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vento


Diz-me, vento que sopra forte, penetrando pelas frestas da janela, gritando tão alto.
Diz-me mais baixo, de leve, sem gemido agudo de sofrer.
O que há de vir mais a frente?

Diz-me Vento amigo, porque sopras tão forte por esses dias?
Acaso brigaste com teu amor?
Embora não seja tristeza somente, vê-se em ti uma fúria!
O que tens contra Primavera, tão bela e florida?

Diz-me, que eu seja como uma tua confidente, agora.
Te acalma e diz.
De que vale esse desalento selvagem, se despedaças a delicada flor?
Vê como é com suavidade que tua irmã, Brisa, a todos toca e convida?

Vento que vem de longe, trazendo tantas histórias, conta-me pelo menos uma.
Dos mares turbulentos e gelados do Sul, salpicado de espuma fértil.
Das moças que morrem e viram sereias, das baleias, dos velhos navios que derrubastes...

Vento, será que então, ao invés de nada me contares, podes levar um recado meu?
Já que estás furioso e tão veloz, leva por aí, não sei bem pra onde, um pedido meu.
Divide com todos os teus, a Brisa, a Primavera, o Raio e o Trovão,
Depositas no bico das aves, nas gotas da chuva, nas pétalas das flores, nos grãos de areia,
Uma suplica tão antiga, um pedido que já me parece tão vão...

Diz ao meu amor, Vento, que o Tempo passa correndo e com ele não posso contar.
Ele não escuta, ri-se toda vez que o procuro...
Diz ao meu amor que o aguardo tanto, que estou cansada de esperar.
Aconselha-o ao pé do ouvido, que seja breve em voltar.
Que deixei na janela um velho lencinho, bordado com seu nome - que não sei.
Que faço votos de logo a ele entregar.

Sopras pelas estradas, pelas cidades, pelos rios e pelos mares.
Vento, conto contigo.
Porque o Tempo é remanchoso, porque a Lua é fria e porque a Vida é tão breve...

***

Vento, diga por favor, aonde se escondeu o meu amor...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Madrugada



Esta triste escrevinhadora perdeu sua avó, vítima de asma.
Amante da vida, a velha e sorridente senhora, dizia que a Madrugada era a mãe do Sol.
A Madrugada, a rainha dos sonhos, do mundo das fadas.
Que eu, menina estranha, viajava para lá em sonhos, pelas portas das estrelas.

Guardei a luz do seu sorriso na face prateada da Lua, irmã do Sol.
Minha avó entendia da noite e do céu estrelado que só tem por testemunha aquele que sobrevive ao convite mortal do sono.
Resista e verás.
Minha avó não se chamava Dalva, à toa. Nome da mais brilhante estrela.

Numa dessas noites estreladas, deixava-me levar em seus braços macios, embalada ao som dos grilos e pelo perfume da laranjeira em flor.
O açúcar dos jasmins, a brisa cálida do sertão e o som distante de alguma viola, formaram o teatro das minhas fantasias juvenis.
Sorte ter uma avó assim, sem artes de cozinha, mas repleta de artes oníricas.

E fui, no barco da noite, guiada pela Estrela Dalva, em busca das terras para além da Terra. Onde não haveria de haver tanto sofrimento, onde, para minha velha alma num jovem corpo, paz e harmonia eram alimento e alento.

E minha avó puxava os fios da imaginação desta sonhadora. Tornando repletas as folhas da minha Árvore, as páginas do meu Livro, de imagens de amor. Um príncipe, belo e doce. Um lar, feliz e próspero. Um trabalho, feliz e tranqüilo.

Minha avó morreu, buscando o ar. Talvez sufocada por não poder viver. Tenho medo da Madrugada desde então.

A Madrugada, entre um dia e uma noite, pode levar-nos...

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Fragmento do livro que estou escrevendo.

O Tempo



Por anos me perseguiu aquela impressão medonha.
Algo indefinido, causando inconformação constante e sutil.
Deformando a visão das coisas, das pessoas, do mundo...
Persistiu incansável essa espécie estranha de desejo, que mesmo intenso, não parecia mesmo meu.
Era como uma imposição externa oprimindo internamente meu peito.
Esse inexistente ou irrealizável objeto de opressão não era meu, fora me dado.
Não sei por quem, por quantos, em que momento, mas não era meu.

***

Hoje, se o ar está mais leve é porque sopraram as areias do deserto, as brisas leves e suaves do Tempo.
Como um balão que murcha ante um esvaziamento inevitável, pouco a pouco, o sentimento foi-se.
Não o decifrei.
Mas, o Tempo, esse senhor curvado, em passos miúdos e vacilantes, varreu com a luz da sua lanterna antiga toda a sombra que sobre mim se abatia.
Não sei o que era, mas não mais existe.
Devo a ele, o Tempo, talvez alguma sabedoria aprendida no escuro. Sem leitura, que tanto prezo, sem guru, sem carinho, sem cuidados. Só a dura areia da ampulheta, descendo lentamente sobre minha cabeça.
Cada pequeno grão ressoando alto e doloroso.

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Fragmento do livro que estou escrevendo.

domingo, 11 de setembro de 2011

A Árvore



Adoro como o sol da tarde recai sobre cada mínima folha da Árvore, por mais tenra e delicada que seja...
E de como todas elas, reluzindo, formam um lindo mar, ondulante, dourado.
A beleza está nas pequenas coisas, não no incomum ou numa perfeição humana.
O que sabe o humano?
É a aleatoriedade das coisas, a imprevisibilidade dos pequenos atos, em geral despercebidos, que juntos formam Deus.
Por que buscar essa beleza numa idealização humana?
Humanidade egocêntrica que cria véus sobre o que podia ser visível.
Se Deus fosse o modelo divino do humano, não se (re)voltaria ele completamente num  giro infinito ao redor do seu próprio umbigo?

***

Já me perguntaram sobre a felicidade.
Olho agora para as folhas dessa velha Árvore e me pergunto se a folha sozinha é feliz. 
Ou devo perguntar à Árvore?

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Fragmento do livro que estou escrevendo...

sábado, 3 de setembro de 2011

Feia como o povo das fadas



Vejo-me pequenina, tímida e feia.
Feia era meu destino original – portanto um serzinho solitário no mundo da Beleza.
Mas, um golpe da vida aprimorou minha aparência física e talvez espiritual.
E até hoje resta a pergunta: permanece inalterado o destino original?
Ou, por mais que o mundo material possa ser manipulado em favor da beleza física, e talvez espiritual, eu permaneço originalmente feia?
Feia e homem.
Eu sou a feia inteligente, portanto mais um dos amigos dos homens.
“Eu não quero isso, seja lá o que isso for”.
Eu quero a chave-mestra que abre a Porta, que mexe as roldanas, que trava e desfaz as voltas da Grande Roda.
Porque, afinal, sou feia mesmo, feia como o povo das fadas. Neste mundo onde tudo está de ponta a cabeça, a beleza é a feiúra e a feiúra a beleza.
“E a minha alma clara só quem é clarividente pode ver”.