domingo, 31 de julho de 2011

Antipoesia de uma poeta



Nasci com uma  predestinação: sou  poeta. Não, ninguém assim me definiu, não é uma definição oficial, entendo como uma condição. Se é ou não poeta.
Por causa desse estigma, as coisas nunca são simples. Surgem em função dos temas. A poesia se sobrepõe à vida? Se sobrepõe ao amor, decerto, pois assim tem sido.  Jane Austen deve ter se questionado também:  


Elizabeth: Eu me pergunto quem descobriu o poder da poesia para espantar o amor.
Darcy: Achei que fosse o alimento do amor. 
Elizabeth: Do amor belo e vigoroso. Mas se é apenas uma vaga inclinação, um pobre soneto o liquidará.

Os pés dos temas, nem sempre suaves, tem pisado meu corpo, minha mente, meu coração. Até que qualquer amor seja liquidado.


Ai de qualquer um como eu que seja poeta. 
Mas, como poeta sem amor é poeta morto, o último sopro ao vivo, alí no guardanapo:

Olha dentro do meu espelho
Quanto mais olhas mais reflexo
Teu
Espelho/coração
Vou te falar da segunda chance...
Da antipoesia minha.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Linda e triste historia de amor. "A dama inglesa e o cavaleiro", canção de Loreena McKennit baseada no poema de Sir Walter Scott chamado "It was an English Ladye Bright" (havia uma radiante dama inglesa) datado do ano de 1805. 

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Maior que qualquer fé ou ideal



Lembro-me desse tempo antigo. Que no alto e afastado monte sagrado, começavam a soprar os ventos gelados do inverno. Uma enorme fogueira ardia no centro de belas e mágicas pedras. Recordo com perfeição o frio açoite das rajadas penetrando minhas vestes, apesar de sua espessura. Lembro de o vento arrebatar meus cabelos vermelhos, arrancando com ímpeto o manto sobre minha cabeça.
Eu estava lá pelo Propósito, que só conheciam os iniciados. Para ouvir a Voz.
Ainda sinto a batida surda dos cascos do cavalo, as ferragens tilintarem e refulgirem ao brilho quente da fogueira. E por dentro do manto escuro, seus olhos de guerreiro. Meu inimigo. Meu amor.
Seus ideais contrários aos meus. Sua fé maior que a minha. E lembro da dor que você me infringiu.
Do gelado metal, do quente sangue correndo pela minha barriga. E ainda assim, em meio a tudo, eu te amando.
E minha Mãe, tão majestosa voz, dizer-me: isso vai se repetir, até o dia em que o amor for maior que qualquer fé ou ideal. Que o amor for maior que o medo.

domingo, 24 de julho de 2011

Marcha das Vadias em Natal

Porque machismo, violência e preconceito estão fora de moda.
Ah! E broxam!!!
Foto: Luiza Fernandes Colorida
Foto: Rodrigo Sena/TN

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dissemos tudo.

O que está bem perto



Decisões podem ser cruéis... As vezes o que pode ajudar está tão perto ao ponto de não ser percebido...

Era tarde da noite quando ela se deitou na grama fria do jardim. No escuro, no silêncio da noite, mirou as poucas estrelas que piscavam, num céu entre negro e púrpura, fruto de alguma combinação das venturas naturais com as desventuras do ser humano.

Tão raras as chances de se ver estrelas.
Tão raros os silêncios, nunca completos.

Hoje, no entanto, ela podia ouvir tão profundamente a voz calada, que tudo se preencheu do surdo som do seu coração. E a pergunta veio mais uma vez. Exigindo, não um resposta, como se poderia supor, mas uma decisão.
E o silêncio pesou, soturnamente, como a asa negra da noite...  ecoando:
Seguir com o plano? Quanto se deve apostar no Destino?
Tudo.

Já havia uma resposta – ela sabia.

Não que ela tivesse escolha entre o tudo e o nada, o que ela precisava era decidir seguir ou não.
Olhou para as estrelas, como se seu brilho distante pudesse dar ao menos alguma pista. Mudança de cores é alguma coisa?

Sentiu-se tão só. E tudo que ela queria era não sentir-se só.

E agora não era o silêncio da madrugada uma benção, mas o pano de fundo da saudade. E tudo que ela queria era um único sinal de que tudo ficaria bem. De que havia um bom propósito nisso tudo.
Mas, é preciso atenção, senão os sinais podem passar despercebidos.
Foi quando ela baixou os olhos que viu um brilho multicolorido vindo não das estrelas do alto, mas do anel que ele havia lhe dado, cintilando calmamente bem ali no seu dedo. 

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Uma sem-amor

Eu me dei toda.


Há pessoas que dão o coração, mas eu dei ainda mais, eu me dei, me ofereci, sem o mínimo pudor, sem me preocupar com o que pensariam, ou o que você pudesse achar. Dei o que tenho de maior e melhor: meu amor.
E nisso dei-me toda, e tanto, que me acabei. Não resta mais nada que eu possa dar. Nem mesmo as lágrimas têm qualquer valor. Nem mesmo seu sal. Eu me feri, de tanto me sensibilizar. Depois, quando parecia que se fazia ali alguma cura, ao primeiro sinal, reavivei a ferida, a dor. Não que eu goste de sofrer – sabem os deuses que não -, ou de dramatizar. Talvez seja só uma forma de marcar, como faziam os guerreiros, a verdadeira batalha devendo ficar bem clara nas cicatrizes. E boas cicatrizes hão de vir de feridas bem curtidas.

É que, quando me dei, saí de mim. Fui habitar em você, mas você não tinha lugar pra mim – o coração é casa de um quarto só... E eu fiquei sem corpo, sem sopro, sem teto, sem lar.

Sou uma sem-amor.

Não sei – pior pra mim – nem o que reivindicar, porque o amor de alguém não se pode pedir, nem roubar, menos ainda se apossar...

Então, vou me pegar de volta, caso não se importe. Levar-me-ei de volta pra casa, oferecer-me-ei um pratinho de sopa quente, com pão e menos dores. Adularei e confortarei meu amor.

E, antes de mais nada, vou me repetir aquela frase ridícula que todo não-correspondido diz e acredita, até me dar conta que não é verdade, porque finalmente descubro que nem todo amor do mundo é suficiente – e mais: nem todo mundo quer ou merece meu amor. “Você vai perceber – talvez tarde demais – que ninguém vai te amar como eu te amei”.
Bobagem!

É melhor ir indo indo...  para finalmente esse dia acabar. E no pôr-do-sol de mim mesma, retornar ao maior amor que existe: o amor próprio.