sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Todos queremos um mundo melhor

Reproduzo a postagem do blog do Luis Pellegrini. 
Um Feliz Ano/Mundo novo começa com consciência e mudança agora!


Robert Happé, pensador holandês contemporâneo que visita com frequência o Brasil, dando cursos e palestras, passa neste vídeo uma mensagem essencial. Vale a pena ouvir e refletir sobre suas palavras. Elas contêm bons conselhos para a libertação.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poesia: fulô para um homem


Pela Fulôresta Emcantada
Dá-me licença poética para passar
Por entre as vestes verdes
Desfolhar-te.
É o que me restafulô cantadaem verso
Verde é ver-te por esta lente

Por esta Fulôresta, meu bem
Teu rosto contemplar
Dá-me licença, poeta?
Que vou entrar, fulôrecente

Emcantada te dou pelas letras,
Que são flora e fauna deste lugar,
Palavras desfolhando por ver-te
Sorrir, bem querer, gostar.

Te quero bem.
Bem-me-quer beija de longe
Tocando as delicadas pétalas
Das letras desta fulô que resta
Encantada e linda
Na solitária colina fulôrida.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Uma prece à Ísis dos Bérberes

 Templo de Ísis - Sabratha, Líbia.

Sondei o espelho eterno.
Uma miragem antiga.

Um templo, colunas de mármore rosa.
O mar. Mantos claros, drapejados.
O Sol e o céu azul.

Sacerdotisa de Ísis.
Líbia, Bérberes, Tuaregues.
Um templo para Ísis.

A estrela que surge do mar –
O mar do crepúsculo.
Eu também sou Ela.

E as marés das almas humanas me pertencem.
Marés que fluem e refluem
Na escuridão silenciosa e íntima que governa a humanidade.

Hera nos céus, na Terra Perséfone.
Levanah das marés e Hécate.
Diana da Lua, Estrela do Mar – Estela.
Ísis Desvelada, Éia, Binah, Géia.

Rasgar o papel de presente dá sorte! kkkkkkkk

sábado, 25 de dezembro de 2010

Compartilho

Compartilho com vocês a honra de ter recebido uma poesia de um dos mais importantes escritores e poetas do Rio Grande do Norte, Nei Leandro de Castro.  Estava guardada e, por esses dias, me dei conta que uma coisa assim não podia ficar escondida. Lembro-me dele dizendo que o faço pensar em Veneza...


Poema só para Luciana

Entre pessoas que brincavam com palavras
 - lavras, larvas de lã -
trazias Pessoa pela mão
e o saudavas na claridade da manhã.
O gênio do poeta estava à mostra:
esculturas de luz na palavra dura.

Em ti, um corpo esculpido em cor suave
com os tons de arco-íris da ternura.
Luz, Lúcia, Ana, Luciana, luzias
na manhã de Pessoa, de pessoas
que fugiam da sedução como quem foge
do canto da sereia que docemente ressoa.


Nei Leandro de Castro (em 19/08/07)

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Papai Noel: deus pagão ou cristão?


Texto postado em 2008 na Revista Época.

Luís Antônio Giron
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI18668-15220,00.html

Acreditar em Papai Noel ainda é um assunto polêmico, mas já foi mais. Na véspera de Natal de 1951, o bom velhinho foi queimado numa fogueira por fiéis católicos no átrio da Catedral de Dijon, na França. O grupo de linchadores religiosos acreditava que incendiar Papai Noel era um gesto de afirmação religiosa, pois o personagem natalino não passava de um deus pagão e, portanto, anticristão. Segundo o manifesto que os fiéis divulgaram na ocasião, "não se tratou de um espetáculo, e sim de um gesto simbólico. Papai Noel foi sacrificado em holocausto. De fato, a mentira não pode despertar o sentimento religioso na criança e não é, de modo algum, um método educativo – que outros digam e escrevam o que quiserem (...)". Poucas horas depois, na mesma cidade, Papai Noel "ressuscitava": ele apareceu na festa promovida pela prefeitura da cidade para animar as crianças.

O episódio de sacrifício e ressurreição serviu ao etnólogo francês Claude Lévi-Strauss para escrever um ensaio sobre as razões da moda do culto a Papai Noel, um rito transportado dos Estados Unidos para a Europa, e ainda novidade em 1951 na França. O resultado é o livrinho O Suplício de Papai Noel (56 páginas, R$ 25,00, CosacNaify), agora lançado no Brasil com tradução de Denise Bottmann. A ocasião do lançamento é dupla: a proximidade do Natal e o aniversário de cem anos de Lévi-Strauss, completados em 28 de novembro. O livro vem acondicionado em uma meia vermelha, acessório típico de Papai Noel.

O Suplício de Papai Noel oferece uma leitura saborosa e intrigante. É uma forma acessível de o leitor tomar contato com o método de análise de Lévi-Strauss, o fundador do estruturalismo. E uma deixa para discutir um assunto que parece meio ultrapassado: você acredita em Papai Noel? Em caso positivo, você se considera um pagão?

O etnólogo estuda o surgimento de um novo rito, o de Papai Noel, mostrando que não se trata apenas de uma importação cultural, e sim uma manifestação legítima de religiosidade.
Ele divide o ensaio em duas partes. Na primeira, compara Papai Noel com outras crenças correntes. Na segunda parte, percorre a história ocidental para demonstrar que o Natal é uma comemoração adaptada das saturnais romanas – festas que aconteciam entre 17 e 24 de dezembro, que incluíam, entre outras atividades, dar presentes para crianças.

Para Lévi-Strauss, Papai Noel nada mais é do que uma reencarnação de Saturno e dos ritos de aproximação entre vivos e mortos – estes representados pelas crianças. A conclusão do estudioso surpeende: ao sacrificar Papai Noel como se fosse uma heresia, os fiéis de Dijon restabeleceram um rito pagão, o do sacrifício do deus Saturno no final das saturnais. "A Igreja não está errada quando denuncia na crença em Papai Noel o bastião mais sólido e um dos campos mais ativos do paganismo do homem moderno", escreve Lévi-Strauss. "Resta saber se o homem moderno não pode também defender seus direitos de ser pagão." Ele diz que há um longo caminho entre as Saturnais até o bonachão Papai Noel. Durante a jornada, perdeu-se um traço essencial: o sacrifício de Saturno (leia-se Papai Noel), depois de toda sorte de excessos. "Graças ao auto-de-fé de Dijon, eis o herói reconstituído em todas as suas características, e não deixa de ser um dos grandes paradoxos desse curioso episódio que, pretendendo acabar com Papai Noel, os eclesiásticos de Dijon não tenham feito mais do que restaurar, em sua plenitude, após um eclipse de alguns milênios, uma figura ritual cuja perenidade, a pretexto de destruí-la, coube justamente a eles demonstrar". São as viradas da História...

O estudioso acha que Papai Noel está mais vivo do que nunca, pois ele preenche uma função profunda: a necessidade que os adultos têm de acreditar nas crianças. Daí os presentes, e a presença de Papai Noel. No fim das contas, quem acredita mais nele são os adultos.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Recordas

                                                         
Recordas o sinal dado em todas as horas
Quando víamos as crianças acordadas de noite
Elas nos diziam com seus estômagos e cansaços que
Os limites desse mundo não podiam ser mais estendidos?  

Todas as partes já caiam e ainda uma se movia com fúria
E mentia que o novo virá (para os mesmos, sempre)
Desde que embalado e protegido em cifras estrondosas
Que comprassem e estilhaçassem vidas e ideias
    
Olhando para trás quando chorávamos imaginando
Que a secura daqueles dias iria engolir a todos nós
Não tínhamos o que hoje nos tem e faz atravessar o tempo
Para buscar as crianças jogadas naquelas noites, lhes
fazer um carinho impossível ao dizer: Vencemos!

Theodoro Leães (Depois da fuga, Granada, 1971).

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Uma minha e outra de Teresa


POESIA... eu sou

Fui criando
criança e ciranda.

Crendo no possível e na fantasia
porque é preciso ser leve
levando a vida criando
poesia...
eu sou

Então toma a minha mão
dancemos
a roda ciranda
criando

Crianças fazendo poesia pela noite.

Luciana Luz

Eu sou POESIA...

Invento

Deponho
suponho e descrevo
a pulso

subindo pela fímbria
do despido

Porque nada é verdade
se eu invento
o avesso daquilo que é vestido.

Maria Teresa Horta

domingo, 19 de dezembro de 2010

Esse tempo todo




Eu tenho toda a ansiosa paciência do mundo.
Fico aqui espectadora, tentando, sem expectativa, aguardar.
Em voltas indiferentes os ponteiros dos relógios, humanamente mundanos, giram.
E eu aguardo as marés da vida.
Vagando em paciência infinita, as ondas que quebram na praia com estrondo de nascimentos, espalham sal diluído. Alisando a beira do mar.
Eu areia, hora solta ao vento, açoitando as pernas do tempo, hora compacta, humidamente unida e lisa.
Vôo nas horas aladas, acento, compacta imobilidade circunflexa.
Esperando... sem esperar.
Esperando... sem esperar.
Esperando algo. Não sei bem o quê...
Devo ter cuidado?
Pergunto ao tic-tac o que é pior: esperar ou não saber o que esperar?
Só o som do tempo...
Espectadora sem expectativa.
- Prestar atenção – voz de homem?
E o que eu faço com o que se revolta lá pelo meio do oceano fértil e vivo?
- Transforma em lágrimas – novamente a voz.
Nem todo choro é de tristeza, racionalizo...
E tenho algo que fazer com esse tempo todo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Só um conto



Dizem que no final do ano, no Natal, quando as energias de boa parte das pessoas do mundo se modificam, algumas coisas estranhas, bizarras ou simplesmente mágicas podem acontecer. Isso talvez explique o que aconteceu... ou não.

Cidade, carros, luzes de Natal.
Ela tomou a direção da fila interminável que se formou diante do sinal de trânsito.
Pessoas agitadas, papai Noel na frente do shopping exageradamente iluminado, um rio de faróis vermelhos...
O sinal abriu e fechou duas vezes, até que ela pudesse parar a alguns centímetros da faixa de pedestres.
Um rapaz, cabelo longo amarrado num rabo de cavalo. 

Clavas de fogo. Malabarismo. 

Chapéu para que as pessoas dessem uma contribuição por sua arte.
Ela procurou na bolsa, naquele bolso pequeno onde sempre havia moedas. Alguns minutos se passaram, como num espaço onde o tempo ficasse suspenso. Notou um estranho silêncio.
Cinqüenta centavos.

Quando levantou a cabeça, deparou-se com o rapaz malabarista na janela do carro.
Olhos extremamente expressivos.

Não teve medo, susto ou coisa que humanos possam sentir.
Como definir aquela viagem, sendo ela mesma humana?
Cinqüenta centavos ficaram eternos minutos suspensos entre a mão dela e a dele.
- Gracias hermosa... – pode compreender a moça, dentre uma série de frases que ele melodiou, sucessivamente, como num sensual tango argentino. Palavras nas quais ela foi mergulhando como num rio de águas mornas. Deixando-se levar pela descida macia e envolvente daquele sotaque.
Maravilhosa sensação. 
Olhos claros.  O calor do fogo.
Espaço entre os espaços.  Tempo em continuidade suspensa.

Ela não soube em que momento despertou daquele insano e surreal instante. Como retomou a direção do carro e chegou viva em casa.
Lembrava-se mesmo dos olhos, da voz e, acima de tudo, do toque suave daquela mão chamuscada pelos malabares de fogo.

E nada explicava porque jazia incólume no banco de passageiros, como uma testemunha da insanidade  mesma dela, aquela moeda de cinqüenta centavos.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As coisas simples


Chove, neste momento. 
O céu de um rosa metálico esteve em contrações de parto há dias.
Sobre nossas cabeças o peso da hora. 
Mas chove e todos os seres, animados e inanimados, se sentem mais leves. Olho pela janela e vejo que a noite ainda nova não escurece o céu roseu, tão grande sua força de mãe cuja a bolsa rompe e nada pode deter a seqüencia das coisas. Ainda delicada é a água que não cai, se derrama, meio que desconfiada dos telhados mornos. E se avizinha dos nossos sentidos um cheiro arcaico de terra, poeira e água celeste. Cheiro de chuva, como se diz. 

Gosto muito de chuva.

Saio para deixar-me banhar nessa dádiva que é vida, afinal.
Experimento a felicidade das coisas simples e gratuitas. E fico pensando por que  tantas pessoas tem um medo irracional da chuva.

Talvez só as bruxas não tenham...

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Uma conversa com a Mestra

Foto de Toni Frissell


Deixar-nos levar.
Fluir.
Aceitar serenamente o rumo dos acontecimentos, ou o não acontecimento.
Eis um exercício precioso! – Disse a Mestra, colocando as mãos para dentro do quimono rústico.
A não-ação tem um poder extraordinário.
O Caos, o nada, o vazio.
A quietude extrema.
- Não pense, não aja, não deseje – completa Ela, suavemente.
Simplesmente seja.
Flutue na correnteza, sem resistência.
- Você sabe flutuar? É preciso deixar o corpo leve, não exercer qualquer força motora. Naturalmente a água a sustentará e você, metade submersa, poderá ouvir o silêncio que existe dentro de você mesma.
Uma voz fala, não ouça, mas entenda. Não-ação.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quando o outro não é o que esperamos


Conheceram-se por um acaso intelectual. Amizade apenas, por que não? Ela, moça sensível, ele homem engajado.
As conversas fluíram como um rio largo e veloz, se espraiando em margens cada vez menos definidas. Gosto de você, como és encantadora. Lindo, linda. E os olhos do gostar moldaram, retirando os excessos, a estátua do bem querer. Que bom, é assim mesmo. Estamos bem. 
Até que o dia de encontrar-se de fato chegou. Aeroporto, ansiedade, expectativa. Finalmente frente a frente. Hora a hora, crescendo a certeza de que o outro não era o que se esperava.
- Que decepção maravilhosa! Não és o que eu esperava! – exclamou ele.
- Nem você é como eu imaginei! – respondeu ela, olhos cheios de lágrimas.
Eram mais, eram humanos. 
Que belas imperfeições, gestos, sorriso, a mala que cai. O cabelo ao vento, a luz do sol que nasce enrugando a testa, ofuscando qualquer irrealidade. Que belo é o que vai pelo coração!
Não que houvesse máscaras, mas havia bites, distância e tempo a limitar. Aqui são almas, células, cheiro, química, carne.
E a manhãzinha, sempre mais doce, o taxi, o quarto.  E agora, em meio aos assuntos vagos e inacabados, o desejo humano de tocar, finalmente, tudo aquilo que tão maravilhosamente os surpreende.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Sentimentos


Devia guardar seus sentimentos. Bem guardados. Sentimentos assustam.

Devia lembrar que as pessoas neste mundo estão acostumadas às máscaras frias de uma tragicomédia tão constante que se torna a única realidade possível. 

É preciso cuidado, cautela.

Ninguém quer que os sentimentos comandem o mundo em que impera a racionalidade, a assepsia, a luz ofuscante digital.  Não há tempo para isso. E quem se importa com isso?

Por isso devia guardar bem seus sentimentos. Deixe-os em casa, a rua é selvageria. Deixe-os num cofre, com segredo. Deixe-os embaixo do travesseiro.

Sentimentos assim não podem ser verbalizados. O verbo realiza. 

Devia deixar seus sentimentos enterrados onde houver ainda uma velha árvore. Lá, eles nutrirão as raízes, se perpetuarão incólumes. E a seiva o carregará para a copa, de onde sempre serão levados pelo vento, sussurrando ao ouvido de algum poeta, quem sabe um dia...

E nesse dia talvez ele escreva algo assim:

Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
seu dorso frio é campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
sete esperanças na boca fresca!

Oh! como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!

Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania*.

*Vinícius de Moraes