quinta-feira, 30 de julho de 2009


O Sagrado Reencontro

Encoberta pela névoa do tempo,
ela aguarda sozinha no jardim,
velada, seu nome obscurecido,
a desamparada Rosa.
Contraparte perdida do Logos, a Palavra,
Filho do Pai,
razão e justiça,
eterno Ele.
Eros esquecido,
Eros apaixonado,
Eterna Ela,
deixada, prostrada, no chão.
"A Noiva é tão negra ­
porém formosa ­-
quanto as tendas de Quedar.
Não olhe para ela, pois que é morena,
o sol crestou-lhe a tez.
Lavrou nos vinhedos do irmão,
e a própria videira não guardou" (Cântico dos Cânticos 1:5-6).

A Noiva,
ressecada do labor
sob o sol ardente,
morena, seca e sem forças.
Madona Negra,
mãe dos pobres e aflitos,
uva ressecada de Deus,
queimada sob os impiedosos raios
do Logos vencedor, juiz, guerreiro.
Imagem masculina de um Deus soberano
no trono celeste ­-
sozinho.

Ela o buscou com avidez,
mas soldados avançaram sobre ela,
atacaram-na, feriram-na,
os guardiões dos muros.
Sua dor se espelha agora
no ícone de Czestochowa,
um talho em sua face,
a ferida, a desamparada ­-
a Delericta.

Nali Me Tangere:
"Não me toques."
Por séculos o eco:
Nali Me Tangere.
Aquele que ascendeu,
adorado e glorificado -
­intocável,
o belo príncipe,
Leão de Judá e Cordeiro de Deus
sentado ao lado do Pai,
governando ­-
sozinho.

Mas agora, finalmente, ele a busca.
Clama por ela.
Ele conhece o nome da Rosa.
Exausta e árida
na desventura,
ela o ouve gritar seu nome.
Emocionada, ergue a cabeça e olha ao redor.
"Quem está aí?"

O coração bate mais forte.
"Seria ele?
Teria voltado para me buscar?"

O jardim onde ele a deixou
é hoje um deserto ­-
ferido, seco e árido.
As árvores atrofiadas,
rios de águas claras
agora apenas córregos.
Um bosque de espinhos
cerca o jardim,
impedindo a entrada.
Com a espada da verdade
ele deve abrir caminho
para alcançar sua amada.
Afinal ele a encontra
ainda abraçada ao vaso de alabastro.
Suas lágrimas de alegria caem aos pés dele.
Mais uma vez, ela as seca com o próprio cabelo.
Mas agora ele pega a sua mão.
"Venha, amada minha, a hora é esta.
Vamos correr juntos pelos campos,
descobrir se o vinhedo está em flor" (Cântico dos Cânticos 7:13).
Agora, de mãos dadas,
eles caminham pelo jardim deserto.
E onde os seus pés tocam
uma violeta surge do chão,
uma anêmona se levanta.
Em seu despertar,
botões germinam nos galhos secos.
"Nunca mais te chamarão 'desamparada'
nem a tua terra se denominará 'desolada';
mas chamar-te-ão 'minha amada’,
e tuas terras, 'desposada'" (Isaías 62:4).

Ele sussurra o nome dela,
apreciando o sabor,
deliciando-se na Noiva de seus anseios.

Maria.
Fonte: M. Starbird. A mulher com o jarro de alabastro. USA: Bear & Co. 1993.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O upanixade de Maya-Shakti-Devi

O grande estudioso de mitologia Joseph Campbell cita um Upanixade de cerca do século VII a.C., época exata em que a Deusa começava a surgir na região do Egeu. Este texto sagrado narra o encontro surpreendente dos deuses védicos com uma coisa estranha e amorfa no caminho, uma espécie de neblina fumarenta, como passa a narrar o próprio Campbell (O poder do mito, p. 191):

"“O que é isso?” Nenhum deles sabe o que poderia ser.
Então um deles sugere: vou descobrir o que é”.
Esse, então, se dirige àquela coisa esfumaçada e diz:
“Eu sou Agni, o Senhor do Fogo; posso queimar qualquer coisa. Quem é você?”
E do meio da espessa neblina sai voando um pedaço de palha, que cai no chão, e uma voz diz: “Vamos ver você queimar isso”.
Agni descobre que não é capaz de fazê-lo. Ele então retorna até onde estão os outros deuses e diz: “Isso sem dúvida é muito estranho!”
“Bem, então”, diz o Senhor do Vento, “deixe-me tentar”.
Ele vai e a cena se repete. “Eu sou Vayu, Senhor do Vento, posso arrastar qualquer coisa”. Outra vez uma palha é jogada ao chão. “Vamos ver se você pode arrastar isso”. Ele não consegue, e retorna.
Então Indra, o maior dos deuses védicos, se aproxima, mas, ao chegar perto, a aparição se desfaz e em seu lugar surge uma mulher, uma bela e misteriosa mulher, que se dirige aos deuses, revelando-lhes o mistério que fundamenta a eles próprios.
“Este é o supremo mistério de todo o ser”, ela lhes diz, “do qual vocês próprios receberam os seus poderes.
E Ele pode pôr em ação os seus poderes ou neutralizá-los, conforme deseje”. O nome hindu para esse Ser de todos os seres é Brahman, que é uma palavra neutra, nem masculina, nem feminina. E o nome hindu para essa mulher é Maya-Shakti-Devi, ‘Deusa Doadora de Vida e Mãe de Todas as Formas’.
E nesse Upanixade ela aparece como aquela que ensina aos deuses védicos sobre o fundamento e a fonte suprema do seu próprio ser e dos seus próprios poderes."



Assim Falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche


Preâmbulo de Zaratustra
Aos trinta anos Zaratustra afastou−se da sua pátria e do lago da sua pátria, edirigiu−se à montanha. Durante dez anos gozou por lá do seu espírito e da sua solidão sem se cansar. Variaram, no entanto, os seus sentimentos, e uma manhã, erguendo−se com a aurora, pôs−se em frente do sol e falou−lhe da seguinte maneira:

"Grande astro! Que seria da tua felicidade se te faltassem aqueles a quem iluminas?
Faz dez anos que te apresentas à minha caverna, e, sem mim, sem a minha águia e a minha serpente, haver−te−ias cansado da tua luz e deste caminho.
Nós, porém, te aguardávamos todas asmanhãs, tomávamos−te o supérfluo e bendizíamos−te.
Pois bem: já estou tão enfastiado da minha sabedoria, como a abelha quando acumula demasiado mel. Necessito mãos que se estendam para mim. Quisera dar e repartir até que os sábios tornassem a gozar da sua loucura e os pobres, da sua riqueza.
Por essa razão devo descer às profundidades, como tu pela noite, astro exuberante de riqueza quando transpôes o mar para levar a tua luz ao mundo inferior.
Eu devo descer, como tu, segundo dizem os homens a quem me quero dirigir.
Abençoa−me, pois, olho afável, que podes ver sem inveja até uma felicidade demasiado grande!
Abençoa a taça que quer transbordar, para que dela jorrem as douradas águas, levando a todos os lábios o reflexo da tua alegria! Olha! Esta taça quer novamente esvaziar−se, e Zaratustra quer tornar a ser homem".

Assim principiou o ocaso de Zaratustra...

terça-feira, 28 de julho de 2009

Falando em livros misteriosos

Manuscrito de Voynich: O livro mais misterioso do mundo



Foi descoberto em 1912 na Villa Mondragone, em Frascati, perto de Roma, aquilo que representa um dos maiores enigmas do mundo. Junto de outros livros, um manuscrito misterioso e de conteúdo indecifrável até os dias de hoje, vem desafiando pesquisadores em etmologia (estudo da formação dos idiomas) e cientistas em várias áreas.

Tudo teve início quando um comprador de antiguidades, o americano Wilfrid M. Voynich, adquiriu de um antigo colégio de jesuítas na Itália um estranho livro de caracteres indecifráveis até os tempos atuais, tendo em anexo uma carta com data de 1666 se referindo ao antigo proprietário do livro, o imperador Rodolfo II, da Boêmia (hoje região da Alemanha)
O livro estranho foi parar em Nova York depois de morte de Voynich e sua esposa. Por sua vez, o comprador, Hans P. Krauss, o doou para a biblioteca da Universidade de Yale.
O denominado “ Manuscrito de Voynich” tem 235 páginas contendo ilustrações de plantas desconhecidas, quase bizarras, e é escrito em um idioma desconhecido em toda a face da Terra. Há também espécies animais já extintas (?), imagens sobre os temas astronomia, anatomia, além de calendários e figuras de humanos. Há estranhos caracteres, ilustrações de flores e plantas nunca vistas e mulheres nuas que se divertem em banheiras conectadas a estranhos encanamentos.


Outros detalhes intrigantes do manuscrito são planilhas mostrando peças astronômicas vistas por um telescópio, ou ainda células vivas observadas por microscópio. Nas mesmas planilhas, um enigmático calendário com figuras, ou desconhecidos signos zodiacais.


As várias teorias


As teorias sobre o livro e sua escrita enigmática variam, desde fraude, ou uma brincadeira de quem pensava em intrigar a sociedade. Mas, de acordo com estudiosos, a repetição de determinados caracteres indicam uma espécie desconhecida de informação, e não uma brincadeira à base de rabiscos sem propósitos.
Outros passaram a acreditar que a escrita vinha de uma língua artificial. Mas, nem mesmo a língua “Ignota” criada por Hildegarde de Bingen se assemelhava aos caracteres do livro.


Quem tentou e quase conseguiu lançar uma luz sobre o assunto foi o botânico Hugh O’Neill, em 1944. Sua conclusão era a de que algumas daquelas plantas representavam espécies do Novo-Mundo, o que provocaria hipótese sobre a confecção do livro após o ano de 1492, data em que Cristóvão Colombo pisou na América trazendo sementes de girassol e pimenta.Mas, nos desenhos, a pimenta é colorida em verde (ao invés de vermelha) e a identificação de um girassol nas ilustrações gerou dúvidas.
William Romaine Newbold causou outro alvoroço em 1919, ao anunciar que o livro era obra do filósofo inglês Roger Bacon e que o mesmo conhecia a utilização de telescópios e microscópios.Sendo assim, de acordo com Newbold, Bacon conhecia a formação em espiral da vizinha galáxia de Andrômeda, bem como os micróbios, organismos invisíveis a olho nu, e ainda a formação do embrião partindo da união do espermatozoide e do óvulo..


O mistério continua


Parece ser uma espécie de manual ou almanaque voltado para botânica, astronomia e biologia, ou mesmo uma apostila com noções básicas de ciências naturais.
Durante a Segunda Guerra Mundial, peritos militares suspeitaram que o manuscrito pudesse representar informações sigilosas e de espionagem e tentaram destrinchar a inscrição toda mas não conseguiram encontrar uma fórmula para a decodificação do documento.
É de conhecimento público várias falsificações através da história, mas esse tipo de ato sempre buscou um ganho, uma vantagem. Mas , no caso do “Manuscrito de Voynich”, quem se interessaria em produzir trabalhosamente um enigma em mais de 230 páginas sem qualquer intento?
Uma enorme comunidade de cientista, composta de historiadores, bibliófilos, criptógrafos e linguistas, debruça sobre o pequeno livro de 18 por 23 centímetros de comprimento. No entanto, o mistério persiste.
Quem conseguir decifrar mais esse enigma da Terra, poderá entrar para a história.


Fonte: [ Agora Vale ]

O Livro de Diana

Os livros proibidos e queimados pela Inquisição no Brasil

Como vocês sabem, o Brasil não passou incógnito às loucuras da Inquisição. Foram três as visitações do Tribunal do Santo Ofício em nossa terra, uma no ano de 1591, outra no ano de 1618 e a última durou de 1763 a 1768.
Um dos livros citados nas denúncias da Bahia é o LIVRO DE DIANA, que apresenta títulos diversos como Diana de Monte Maior, Diana, e Os cinco livros de Diana.


Em 17 de agosto de 1591, o padre Baltazar de Miranda denuncia na Bahia dona Paula de Siqueira, esposa do contador Antônio de Faria, no Rio de Janeiro, “por ler e folgar com a Diana de Monte Maior e que fazia o músico, per nome Manuel, cantar as cantigas da dita Diana” (Cascudo, p.14).

Outra denúncia se registra no dia 25 de agosto de 1591, é de Gaspar Manoel, licenciado em artes, que acusa a Matias de Aguiar de ter um livro de Diana. O acusado procurou o Visitador, confessou o pecado e lhe entregou o volume que foi queimado.

No dia 28 de agosto de 1591, Bartolomeu Fragoso confessou ter lido uma Diana de Monte Maior. “Por cúmulo da precaução ía lendo e rasgando as folhas” (Cascudo, 1953, p. 14). Já Domingos Gomes Pimentel confessou, no dia 18 de janeiro de 1592, ter possuído e lido, seis anos antes, a mesma Diana.

O cristão-novo Nuno Fernandes, natural da Bahia, confessou ter lido muitas vezes o “livro chamado Diana”, quatro ou cinco anos atrás. Dentre os livros que possuía estava o “Metamorforges (sic) de Ovídio” (1953, p. 14).

Também nas denunciações de Pernambuco aparece o tal livro de Diana. No dia 22 de janeiro de 1594, o cristão-novo Gaspar Rodrigues, residente na freguesia de Sant’Amaro, denuncia Bento Teixeira, “o poeta da PROSOPOPÉIA, mestre de ensinar moços, de ler Diana” (1953, p. 14).

Que misterioso livro proibido é esse? Cascudo não explica, apenas se limita a apontar a obra de Jorge de Montemor que chama de “cinco livros de DIANA”. Serão todos o mesmo?*
* Parte da minha tese de doutorado: Cinco livros do povo: conhecimento tradicional ou conhecimento oculto em cinco narrativas de cordel.

segunda-feira, 27 de julho de 2009


Uma pessoa especial me disse: "eu não temo as bruxas, tenho muito respeito por elas. São seres que merecem muito respeito."

Fui atingida por essa aparentemente tão simples afirmação.


"São seres que merecem muito respeito", disse ela.

Depois do inesperado impacto que me causou aquele julgamento tão livre de estereótipos, perguntei a essa amiga por que ela afirmava isso. Ela prontamente explicou: "é que vocês são seres que tem uma carga de vidas passadas de muita incompreensão e sofrimento por serem o que são, admiro os que permanecem fazendo o bem".


Puxa, aquilo foi como a voz do oráculo, uma resposta clara a uma reflexão que me perseguia há muito tempo.
Andei enculcada, remoendo o motivo que levaria a tantos fatos, na minha concepção, inapropriados a nós seres que se supõem de consciência mais elevada que a maioria da humanidade. O que vemos é uma constante queda nas armadilhas do Ego, uma guerra psicológica, física e até astral entre alguns de nós, sem falar a facilidade e rapidez com que nos julgamos e julgamos os outros (especialmente os do nosso meio).
Não só julgamos a nós e aos outros com rapidez, mas sobretudo com severidade. Eu nunca havia pensado que o motivo poderia estar no passado, além é claro de vários outros motivos específicos.


O importante é que o ponto de vista dessa amiga especial abriu um horizonte mais ameno, e eu passarei a julgar com menos severidade a mim mesma e aos que me cercam. A exigir menos de mim e das outras pessoas, pois quem pode saber o motivo de cada um?
Quem pode julgar a sabedoria dos outros, tanto quanto a de si mesmo? Para isso teríamos que ter acesso à Verdadeira Sabedoria, para que nos servisse de parâmetro. Isso, infeliz ou felizmente só é possível a pouquíssimos seres desse planeta. O fato é que, mesmo em graus diferentes, estamos todos aqui em busca dessa sabedoria, tentando neste caminho cheio de penumbras iluminar a nossa centelha, nossa luz interior.
Esse post foi especial pra ti Lu, tu sabe né? heheheh

domingo, 26 de julho de 2009

O crânio na Bruxaria

Ao longo da História a humanidade tratou e compreendeu a morte de modos diversos, da relação de maior intimidade (lavando seus mortos, preservando seus corpos, adorando seus ossos) até a total repulssa e negação (como é mais comum em nossos dias). Mas, a bruxaria e outras escolas mágicas sempre manteram uma estreita afinidade e respeito pela morte, pois representa para nós a passagem deste mundo de sonho para o Outro Mundo, onde habitam os Antigos e onde encontramos a verdadeira Sabedoria.
Os ossos, e em especial, o crânio é elemento muito comum e importante nos altares de bruxaria.



Nos diz Evan John Jones, em seu livro Sacred mask, sacred dances:


"...a Estaca expressa o conceito da Deusa, do Deus Chifrudo e da Criança Chifruda. Quando a Taça é colocada no lado esquerdo da Estaca, simboliza a Deusa e os Mistérios Femininos .Colocada a faca no lado direito, representa o Velho Deus Chifrudo. Remova a faca e substitua-o pelo crânio e ossos cruzados. E aí torna-se o símbolo da total transformação no ciclo da morte e ressureição. Também significa a transformação do não iniciado em bruxo, que em efeito significa a morte de uma vida passada e o início de uma nova como seguidor da Velha Religião. Retire a caveira e os ossos e substitua-os pela foice e você tem o símbolo da morrente Criança Divina sobre a Cruz Tau do carvalho Kern, voluntariamente se sacrificando para os Velhos Deuses deixarem o Jovem Rei reinar".


Já para Gerald Gardner:


"... quando o Deus não estava presente, ele era representado por uma caveira e ossos cruzados. A morte e o que está além. A Sacerdotisa de pé com os braços cruzados representa a caveira com os ossos em cruz. Abre seus braços em posição de pentagrama, que significa regeneração".


Alex Sanders (foto) também devia saber muito bem disso.


Além do que já foi dito, o crânio é também o canal para o fortalecimento e contato com a "companhia oculta", ou seja, um local onde o espírito de uma bruxa(o) morta(o) possa "habitar" quando chamado a aconselhar e inspirar o clã. Para isso, existem ritos próprios em cada Tradição ou Escola de Mistérios.



A Rosa da Alma


Esta noite eu morri.
Mirei o sol do poente e com ele mergulhei na linha do horizonte.
Mergulhei, sumi por entre os ramos da Grande Floresta.
Juntei-me e Ti.
Meu corpo jazia sobre um leito,
Uma grande laje por entre as pedras.
Ali, um grande roseiral crescia enquanto meu corpo se decompunha.
Os ramos se entrelaçavam por meus membros brancos,
Os espinhos furavam a carne e um vento gelado açoitava meu cabelo.
Então eu vi.
Sobre meu corpo:
Quando não mais que ossos descarnados e claros havia,
Mesmo assim o roseiral crescia
Tomando meus ossos, por entre eles se estendia.
Vi
Que mesmo assim cresciam botões
Que se transformaram em rosas
E elas cobriram meus ossos, invadiram meu esqueleto
E tornaram meu túmulo um jardim
E meu crânio um vazo para uma bela rosa

Havia, além desta, uma porta.
E além dela uma estrada longínqua.
Segui.
Pequenas e delicadas pastilhas de pedra brilhante conduziam.
E lá, numa colina distante,
Soçobravam ao vento torres, contra um céu noturno e estrelado.
E ouvia-se o quebrar constante de ondas num penhasco triste e solitário.
Segui.
Novos e mais belos roseirais se abriam a minha passagem
Como se guardiões fossem da jornada.
E como gotas de sangue sobre a noite, as rosas exalavam seu aroma Misterioso na madrugada
Consegui.
Deparei-me com a Morada.
Lá estava Ela.
Uma porta aberta, um salão amplo, uma luz diáfana.
Uma roseta de mosaico formava o chão sempre girante.
Sempre novas e interessantes saídas ou entradas se mostravam
A todo instante.
No centro a Fonte. Da morte? Da vida?
E naquele líquido suave me dilui e constei,
Transformei-me e permaneci,
Existi e tornei.

Encontrei-me
Novamente sobre a laje,
Do meu corpo, em sono profundo
No vale uma tênue luz rosada despontava.

por Luz le Fay

sábado, 25 de julho de 2009

O jardim das bruxas - Parte I

O Vôo
Os unguentos de vôo eram feitos com flores, bagos, folhas e raízes que tivessem propriedades tóxicas e alucinógenas. Esta pasta era passada nas mucosas e dobras do corpo. Muitas histórias contam que as bruxas passavam o unguento no cabo das vassouras e nele se esfregavam pois a fricção aumentava a eficácia das toxinas.

Dentre as plantas usadas, as preferidas e mais citadas pela literatura são:


Datura stramonium L.

Os espinhos do estramônio ou herva do diabo representavam perigo para todos que se aproximassem desta linda flor de aroma inebriante. Só as bruxas não os temiam. Poucas gotas da toxina alucinógena desse bago espinhoso, misturadas em um unguento de vôo provocavam visões por horas.

Aconitum napellus L.

As flores roxas em forma de capuz do acônito acolhem uma alta toxidade. Esta é erva sagrada para Hecate, a Mãe Bruxa, altera os batimentos cardíacos e produz sensação de queda ou vôo.


Cicuta visora

É no talo das pequenas flores rendadas da cicuta que se encontra um poderoso néctar venenoso. Esta toxina intensifica a sensação de deslizar pelos ares. Para acelerar o efeito as bruxas deviam aplicar o unguento nos genitais.

A promessa da Rosa

Nas palavras de Evan John Jones :
"A promessa da Rosa torna-se depois a jornada da alma após a morte. Para nós, esta jornada leva a alma ao longo do caminho através do submundo para os bancos do Rio Sem Fim, que é a fronteira entre este mundo e o próximo, largo e fluindo vagarosamente, ele lava as memórias e desejos terrenos, deixando o espírito limpo novamente. Mais a frente, neste Rio, cujos bancos nas margens nunca podem ser vistos ou alcançados por nós sob circunstâncias normais, está a ilha sob a qual fica o Castelo das três torres.
Empoleirado sobre um rochedo, o Castelo aparece depois de um caminho sinuoso para cima a partir de uma planície desolada, coberta com arbustos atrofiados até seus portões. Isto é o que a alma verá enquanto estiver sendo levada para lá pelo silencioso e encapuzado barqueiro.
Uma vez desembarcada, a alma começa a caminhada para o Castelo, então o milagre da Rosa ocorre. As terras desérticas começam novamente a florir, com rosas vermelho-sangue,até que o mesmo Castelo pareça estar em um mar de flores, e a alma institivamente sabe que a Deusa, a verdade em Sua palavra, a recolheu em casa novamente..."