Conheceram-se por um acaso intelectual. Amizade apenas, por que não? Ela, moça sensível, ele homem engajado.
As conversas fluíram como um rio largo e veloz, se espraiando em margens cada vez menos definidas. Gosto de você, como és encantadora. Lindo, linda. E os olhos do gostar moldaram, retirando os excessos, a estátua do bem querer. Que bom, é assim mesmo. Estamos bem.
Até que o dia de encontrar-se de fato chegou. Aeroporto, ansiedade, expectativa. Finalmente frente a frente. Hora a hora, crescendo a certeza de que o outro não era o que se esperava.
- Que decepção maravilhosa! Não és o que eu esperava! – exclamou ele.
- Nem você é como eu imaginei! – respondeu ela, olhos cheios de lágrimas.
Eram mais, eram humanos.
Que belas imperfeições, gestos, sorriso, a mala que cai. O cabelo ao vento, a luz do sol que nasce enrugando a testa, ofuscando qualquer irrealidade. Que belo é o que vai pelo coração!
Não que houvesse máscaras, mas havia bites, distância e tempo a limitar. Aqui são almas, células, cheiro, química, carne.
E a manhãzinha, sempre mais doce, o taxi, o quarto. E agora, em meio aos assuntos vagos e inacabados, o desejo humano de tocar, finalmente, tudo aquilo que tão maravilhosamente os surpreende.
Acredito em relacionamentos virtuaism justamente por causa disso: quando não somos e não eocntramos o que esperamos, mas nos deixamos levar pelo desejo que temos do outro. Só assim encontramos pessoas humanas iguais a nós, e não os estereótipos que vemos ao nosso redor no dia a dia.
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