Ela achava que era loucura, que era até insano, mas foi conferir.
Abriu a caixa ameaçadora de um só golpe.
Lá dentro, por entre outras dezenas de missivas, estava o cartão.
Observou de longe, como que esperando um bote repentino.
Nada.
O vento soprou na janela, por entre as frestas das venezianas, enquanto o tempo parecia suspenso, durando horas.
Por fim, já que tinha tido esta maldita idéia, resolveu pegar o pequeno inimigo de uma vez.
No cartão um sol majestoso saía detrás de uns coqueiros alegres e indiferentes. Lá no fundo, o mar sereno do ocaso pronunciado prateava docemente.
Você, comp a maioria dos mortais, esperaria encontrar do outro lado do cartão, frases cálidas e suaves, logicamente condizentes com a paisagem, não?
Pois é, ela também... Um dia.
Mas ela sabia, lembrava claramente, que por trás daquela aparente calmaria praieira havia mesmo era uma tempestade de palavras furiosas e afiadas.
Você, como a maioria dos mortais, teria virado o cartão e lido, relido aquelas 4 linhas ácidas e finais.
Pois é, ela já fez isso... Um dia.
Hoje não.
Levou cuidadosamente o ser solar e furioso, como a um animal fatal, até a lata de café vazia.
Tocou fogo.
Para sempre cinzas, depois nada.
E ficou assim, esperando que a mimese se desse também nas malditas memórias.
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