segunda-feira, 13 de junho de 2011

Só Isto. Ou ao Mestre Pessoa



Há dias em que a razão não é nada.
O que pode, de fato, a razão provar?
Quantas angústias vão em cada individual coração
Neste planeta, pequeno, rodopiando...
Os olhos míopes da razão não vão além de algumas nuvens.

Creio eu em muito mais.
Não porque crer me deva dá qualquer segurança
Mas crer é, nesse caso, ir além do pouco que nos é dado
Conhecer.
Crer nesse caso, e digo o contrário, é duvidar.

E nisso tem-me inspirado o Mestre Pessoa
Que não podia chamar-se por nome mais democrático.
Porque é Pessoa que é falho.
Ser poeta é ser errante, perdido, desconfiado
Surpreso com a “eterna novidade do mundo”.

Ser poeta é fingir, e fingindo, chegar a crer.


Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê! 

Isto (Fernando Pessoa)

2 comentários:

  1. "ha dias em que a razão não é nada" foi perfeito para meu estado de espirito nessa segundona... um dos nossos cachorros (14 anos) nos deixou hoje... não há espaço para a razão, só um tristeza impossível de conter... mas é assim a vida e a morte sempre presentes.

    JOPZ

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  2. Sinto por sua perda, Jopz. Um animal de estimação é, para mim, um ente querido e da família e a dor é igual. Mas viveu muito e acredito que bem feliz, sempre é bom pensar assim.
    Abraços

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