terça-feira, 29 de maio de 2012

Pedra Furada: um presente do Mar


Sábado fui desfrutar de um paraíso natural que ainda resiste em meio à especulação imobiliária que toma conta de Natal. Chamamos de Prainha, uma pequena enseada pontilhada e rendilhada de pedras, e banhada por um doce e cálido mar de um lado e pela exuberância de uma encosta protegida por pequena faixa de mata virgem. Não há viva’lma, como dizia minha avó, a quebrar a magia que ainda vive naquelas pedras, naquele local onde se pode, por horas a fio, ficar contemplando a mansidão de um lugar entre os lugares.
E lá estava eu, sentindo as emanações poderosas da Mãe Natureza, mirando o passeio lento das ondas pela areia fina, sentindo o vento cantar na mata da encosta, quando um belo lagarto verde escuro, lustroso como uma enguia, sinuosamente saiu da mata em direção a aglomerado de pedras. Ele seguiu, olhando para mim e meu amigo, e ponderando nosso grau de ameaça por alguns instantes, percebeu que menor ameaça não podia haver no mundo. Estando nós dois de respiração suspensa, maravilhados com o que consideramos um magnífico presente! Então seguiu, calmamente seu roteiro prévio como se eu e meu amigo fossemos como as pedras da praia, nem mesmo como as árvores que se mexiam frente a força dos ventos.
Que alegria há em tão singela aparição! Como estamos acostumados às grandezas artificiais de uma vida que supostamente é essa aí mesmo. Amo a natureza por sua sutileza. Recado veio, minutos depois, quando eu estava tranquilamente deitada na areia, sob a sombra de uma árvore de cheiro. Num pequeno sussurro ao pé do meu ouvido, uma lembrança de algo que não sei bem o que moveu meu impulso de me levantar e seguir rumo às pedras escuras. Chapinhei feliz nas poças que se formavam, sentindo a quentura do sol nas minhas costas e eis que dentro de uma das poças, uma pedra me chamou a atenção. Para minha surpresa, apesar de seu tamanho ela facilmente veio quando a removi. É uma pedra com um furo no meio! Uma pedra mágica! Um presente maravilhoso da Deusa!
Não preciso dizer o quanto voltei feliz desse passeio ao paraíso da Prainha. A pedra encontra-se devidamente colocada em posição de destaque no meu altar, claro. E eu, feliz da vida, posso ver melhor agora o que via antes.
A pedra que me achou.

Olhando por ela.


Sobre a magia das pedras furadas.
As pedras furadas são consideradas tradicionalmente como mágicas, presentes do mar. Podem ser usadas penduradas acima do leito para proteção, bem como se forem pequenas levadas ao pescoço com um cordão.
As pedras com um orifício natural são associadas com a Deusa e com as fadas. Podem ser portais para o Outro Mundo e na Tradição Oculta dizem que uma pessoa pode ver fadas ao observar atentamente com o olho esquerdo através do buraco da pedra.
Ao assobiar pela abertura convoca-se as hostes dos mundos elementais, também espíritos, segundo o folclore europeu. Pode ainda ser tocada como um sino no ritual ou derramar-se por sua abertura libações de leite e vinho (neste caso a pedra é usada apenas para esse fim ritual, pois pode servir de oráculo revificado)*. Na bruxaria italiana, acredita-se que as pedras furadas podem ser habitações de espíritos que ajudariam a bruxa em seus trabalhos mágicos.
A pedra furada é considerada também Pedra da Deusa, sua representação fenomêmica, consubstanciada na mimese da Natureza, na antromorfização, ou seja, por assemelhar-se ao corpo feminino, sendo o buraco a abertura do ventre da Grande Mãe Neolítica.
Mas, no caso da pedra furada marinha essa representação recebe o, a meu ver, magnífico poder do mar primordial, sendo ela uma obra, uma passagem natural de um a outro mundo, formada pela própria ação da água oceânica. E toda a simbologia do mar como Mar Amargo, inconsciente e berço da vida, toma forma na matéria agregada de vida que é a rocha marinha. Ela é viva, pulsante, vibrante e antiga.
Assim como as conchas, as pedras furadas podem e devem ser ofertadas como oferendas para a Grande Mãe.
Podem também ser usadas (e aí uma vez usada para esse fim, não deve ser para outros) para banhos de purificação. A pedra furada é colocada na água junto com sal marinho.

*Esse conhecimento me foi passado por outros meios, não literários.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Credo das Bruxas



Ouça agora a palavra das Bruxas, os segredos que na noite escondemos. 
Quando a obscuridade era caminho e destino, e que agora à luz nós trazemos. 
Conhecendo a essência profunda, dos mistérios da Água e do Fogo, e da Terra e do Ar que circunda, manteve silêncio o nosso povo. 
O eterno renascimento da Natureza, a passagem do Inverno e da Primavera, compartilhamos com o Universo da vida, que num Círculo Mágico se alegra. 
Quatro vezes por ano somos vistas, no retorno dos grandes Sabbats, no antigo Halloween e em Beltane, ou dançando em Imbolc e Lammas. 
Dia e noite em tempo iguais vão estar, ou o Sol bem mais perto ou longe de nós, quando, mais uma vez, Bruxas a festejar, Ostara, Mabon, Litha ou Yule saudar. 
Treze Luas de prata cada ano tem, e treze são os Covens também, treze vezes dançar nos Esbaths com alegria, para saudar a cada precioso ano e dia. 
De um século à outro persiste o poder, que através das eras tem sido levado, transmitido sempre entre homem e mulher, desde o princípio de todo o passado. 
Quando o círculo mágico for desenhado, do poder conferido a algum instrumento, seu compasso será a união entre os mundos, na terra das sombras daquele momento. 
O mundo comum não deve saber, e o mundo do além também não dirá, que o maior dos Deuses se faz conhecer, e a grande Magia ali se realizará. 
Na Natureza, são dois os poderes, com formas e forças sagradas, nesse templo, são dos os pilares, que protegem e guardam a entrada. 
E fazer o que queres será o desafio, como amar a um amor que a ninguém vá magoar, essa única regra seguimos à fio, para a Magia dos antigos se manifestar. 
Oito palavras o credo das Bruxas enseja: sem prejudicar a ninguém, faça o que você desejar ..."

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A palavra/poesia liberta/a/dor/ahhh



Tenho corrido com os lobos há muitos anos, talvez há muitas vidas, mas nunca percebi que corria para longe. Também corri desesperadamente atrás de algo, de alguém... E crendo na complexidade das coisas, confundi tudo com magia. Corri por achar que é a ação quem determina o tempo e a resolução das coisas.
Corri sempre solitária... e isso é péssimo para uma loba.
Desesperadamente corri, sem direção certa – ela existe? – que perdi no caminho meu coração, tão selvagem.
E foi doando demais, tentando demais, acelerando o que talvez seja tão lento... que mesmo o tempo não saiba quando.
Tudo por amor. Pelo amor. O que é o amor?
Onde se confundem os desejos e imagens do amor e o amor, ser tão fugidio, Eros...
Trilhei muitas vezes – pois parece que uma só vez não basta – o velho caminho da Sacerdotisa, e fui Perséfone nos braços do inferno interior. Acho que ainda caminho...
Mas achei pouco, já ser tão penoso ser Atalanta, que busquei erotizar (ironizar) a vida. E chamei um adversário para Hades. Eis, maldito/querido companheiro o amor por teu oponente! Este que em mim devias julgar suprimido, negado, inadvertido, enfim impossível.
E percorri o caminho de Psiquê duas vezes, por que uma só não basta. E queimei a pele de Eros com a fuligem da minha vela, maculei suas belas asas brancas com meus pés pretos infernais. Eu fui eu demais!
E a danação da curiosa/ingênua/amante foi ouvir que não sei amar. Eu que enfiei os pés pelo coração, a alma pelas mãos, eu que me...
Agora olho a trilha bifurcada e não sei para onde correr, e por não o saber, quem diria, estaquei a passos tão lentos que não me movo nada além dos meus pensamentos. Eu que fui asa de beija-flor, hoje espero com olhos tristes e profundos num toco qualquer da estrada, que passe a Velha Roda girando seja para qualquer lado, desde que eu não precise correr tanto, mais, mais, mais...