quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Luz fala....


Tem havido alguma vantagem em ser bruxa. Embora seja preciso lidar com essa linguagem estranha que falam as pessoas, que move o mundo.

A verdade é que não me acostumei.

Pessoas são mercadorias, sentimentos são descartáveis, os olhos são falsos e a desconfiança é sempre a primeira impressão.
Mundo difícil esse.
Em que amar é uma fragilidade, um alvo fácil, um renda-se.

Eu tenho procurado me equilibrar nessa corda fina e elástica que me mantém viva. Passando ou tentando passar ao largo de algumas atitudes humanas, como quem passa por um pântano, cuidando em não afundar ou ser atacada pelas feras que habitam nas sombras.

Eu sei, é preciso seguir mesmo assim.

Porque não me contamino, pessoas dizem que sou estranha, etérea.
Como é difícil ser-se simplesmente!
Já ouvi adjetivos complexos como inatingível, mercurial, sub-reptícia, selvagem.
Gosto sobretudo do "emocionalmente instável". Que graça tem em ser-se monótonamente estável? Viva as emoções!

Faz parte do meu ser, como diria o poeta.

É que venho procurando aqui e em toda parte o que não se pode definir em palavras claras. Esse não-ser, esse não-lugar, esse estado instável constante, esse maravilhamento e assombro.
Eu busco nas pessoas, nas coisas, na natureza, até no que chamam amor. Será que eu o reconheceria aqui? O quanto será que já fui contaminada e não sei?

Dizem que não se é bruxo se não for poeta. A poesia é estado, a linguagem quase perdida, que se fala com o universo e ele responde... o sliêncio.

Clarice Lispector conseguiu se aproximar com as palavras do que seria esse estado:


"Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.


De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.

Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."

Clarice Lispector

5 comentários:

  1. Muito bem desenvolvido esse texto... e já que vc conhece o NÃO LUGAR a minha sugestão é procurar algumas respostas e perguntas no NÃO ESPAÇO...

    http://b1brasil.blogspot.com/2010/06/livro-cabeca-tubarao.html

    JOPZ

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  2. É um blog seu Jopz? Livro cabeça tubarão?
    Obrigada pelos sempre pertinentes comentários, aliás, se você conhece o Panela, quem é você? Será que te conheço??? :D
    Abraço

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  3. Conheço muito bem os espaços que existem entre uma nota e outra. Conheço bem o silêncio e o escuto quase sempre. Aprensí a encontrar esses espaços quando dei um passo à frente e quis me tornar músico. TEM UM SELO PRA VC NO MEU BLOG. VAI LÁ BUSCAR.

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  4. SIPS o BASE1 BRASIL (ou apenas B1B) é 1 blog escrito por JOPZ, ESPOSA e AMIGOS.

    Não nos conhecemos, encontrei vc pelo blog do panela e achei aki um espaço legal.

    DOMINUS VOBISCUM

    JOPZ

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  5. Tai o link e um convite para conhecer o BLOG CEMITÉRIO DO JOPS (onde só tem zumbis, monstros e mortos-vivos perambulando... cuidado ok)

    ;-P

    http://b1brasil.blogspot.com/

    JOPZ

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