quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tocando estrelas



Em noites como essa, de lua cheia, a velha questão sepultada, de repente desperta. Ergue-se deslumbrante, de sob o manto frio e escuro da terra. À sete palmos, tão poucos para contê-la. Que questão? Não sei dizer. Dela só sinto, é irracional, uma coisa viva, rastejante... Um incômodo constante, um algo qualquer fundamental que não se define nunca. Como um holograma, vejo apenas partes.
Um não sei o que, que vem de não sei onde, entra pela janela, junto com a luz translúcida do astro misterioso. Enche meu coração de um pesar e de um poder que não tem medida, de tão grande e profundo. Vejo-me antes, não sei onde, por conta de algo indefinido e importante, a lutar. Lá onde não sei dizer, encontro-me com outros, com o mesmo ideal magnífico e nos pomos a trabalhar, com afinco, na resolução dessas coisas que me fogem, me fogem à memória - e mais! - fogem-me ao racional e às capacidades limitantes desta linguagem tão pobre.
Mas, sei que dessa sensação fica a certeza de algo lindo, importante. De fazermos há muito. De que o trabalho não terminou ainda. Que sinto saudades de quase tocar, como quem estira a mão até as estrelas numa madrugada à beira-mar. Teto baixo, salpicado de luzes, como se lá tivesse ficado um lar.


Disse-o bem Hilda Hilst: "Me queimo em sonhos, tocando estrelas".

2 comentários:

  1. Eu me queimo em versos tocando seus textos. Muito bom Luz! Abraços.

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  2. Muito legal... ontem eu também kurti aquela super lua cheia fazendo um pedal "sozinho na multidão".

    intepz, bom findi,

    JOPZ

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