
Encoberta pela névoa do tempo,
ela aguarda sozinha no jardim,
velada, seu nome obscurecido,
a desamparada Rosa.
Contraparte perdida do Logos, a Palavra,
Filho do Pai,
razão e justiça,
eterno Ele.
Eros esquecido,
Eros apaixonado,
Eterna Ela,
deixada, prostrada, no chão.
porém formosa -
quanto as tendas de Quedar.
Não olhe para ela, pois que é morena,
o sol crestou-lhe a tez.
Lavrou nos vinhedos do irmão,
e a própria videira não guardou" (Cântico dos Cânticos 1:5-6).
A Noiva,
ressecada do labor
sob o sol ardente,
morena, seca e sem forças.
Madona Negra,
mãe dos pobres e aflitos,
uva ressecada de Deus,
queimada sob os impiedosos raios
do Logos vencedor, juiz, guerreiro.
Imagem masculina de um Deus soberano
no trono celeste -
sozinho.
Ela o buscou com avidez,
mas soldados avançaram sobre ela,
atacaram-na, feriram-na,
os guardiões dos muros.
Sua dor se espelha agora
no ícone de Czestochowa,
um talho em sua face,
a ferida, a desamparada -
a Delericta.
Nali Me Tangere:
"Não me toques."
Por séculos o eco:
Nali Me Tangere.
Aquele que ascendeu,
adorado e glorificado -
intocável,
o belo príncipe,
Leão de Judá e Cordeiro de Deus
sentado ao lado do Pai,
governando -
sozinho.
Mas agora, finalmente, ele a busca.
Clama por ela.
Ele conhece o nome da Rosa.
Exausta e árida
na desventura,
ela o ouve gritar seu nome.
Emocionada, ergue a cabeça e olha ao redor.
"Quem está aí?"
O coração bate mais forte.
"Seria ele?
Teria voltado para me buscar?"
O jardim onde ele a deixou
é hoje um deserto -
ferido, seco e árido.
As árvores atrofiadas,
rios de águas claras
agora apenas córregos.
Um bosque de espinhos
cerca o jardim,
impedindo a entrada.
Com a espada da verdade
ele deve abrir caminho
para alcançar sua amada.
Afinal ele a encontra
ainda abraçada ao vaso de alabastro.
Suas lágrimas de alegria caem aos pés dele.
Mais uma vez, ela as seca com o próprio cabelo.
Mas agora ele pega a sua mão.
"Venha, amada minha, a hora é esta.
Vamos correr juntos pelos campos,
descobrir se o vinhedo está em flor" (Cântico dos Cânticos 7:13).
Agora, de mãos dadas,
eles caminham pelo jardim deserto.
E onde os seus pés tocam
uma violeta surge do chão,
uma anêmona se levanta.
Em seu despertar,
botões germinam nos galhos secos.
"Nunca mais te chamarão 'desamparada'
nem a tua terra se denominará 'desolada';
mas chamar-te-ão 'minha amada’,
e tuas terras, 'desposada'" (Isaías 62:4).
Ele sussurra o nome dela,
apreciando o sabor,
deliciando-se na Noiva de seus anseios.
Maria.






Uma pessoa especial me disse: "eu não temo as bruxas, tenho muito respeito por elas. São seres que merecem muito respeito."
O importante é que o ponto de vista dessa amiga especial abriu um horizonte mais ameno, e eu passarei a julgar com menos severidade a mim mesma e aos que me cercam. A exigir menos de mim e das outras pessoas, pois quem pode saber o motivo de cada um?
Ao longo da História a humanidade tratou e compreendeu a morte de modos diversos, da relação de maior intimidade (lavando seus mortos, preservando seus corpos, adorando seus ossos) até a total repulssa e negação (como é mais comum em nossos dias). Mas, a bruxaria e outras escolas mágicas sempre manteram uma estreita afinidade e respeito pela morte, pois representa para nós a passagem deste mundo de sonho para o Outro Mundo, onde habitam os Antigos e onde encontramos a verdadeira Sabedoria.
cruz. Abre seus braços em posição de pentagrama, que significa regeneração".



