quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Contos Inacabados

O Bosque dos Agoniados

Por Luz Le Fay
Dois


Algumas coisas realmente estranhas podem acontecer na vida de um homem.

E era justamente uma dessas coisas que agora passara a ocupar boa parte dos pensamentos de Paulo. O bosque obscuro, a mulher e o sumiço insólito... As perguntas ferviam na sua cabeça. Primeiro precisava saber se o que ocorrera “ocorrera de verdade”, depois o que significava, quem era, o que era aquela mulher? Enfim, será que estava ficando louco? Todos os dias depois do “ocorrido”, Paulo ficava até tarde da noite peranbulando na praça das árvores, esperando ver novamente a moça misteriosa no banco do pequeno bosque. Todos os dias ele se sentava à sua mesa no núcleo de tecnologia da universidade e tentava se concentrar em suas tarefas, mas as perguntas insistentes não só não cessavam como se complexificavam e se ramificavam em teorias cada vez mais mirabolantes. Estava assim como imerso nas teias de seu raciocínio quando um fato mudou tudo.


Era uma tarde quente e as portas e janelas do laboratório estavam abertas. Paulo estava lá, olhando o nada, absorto nas teorias quando foi interrompido por um rapaz estranho debruçado sobre o balcão da recepção. Os olhos cintilantes pareciam alertas, embora extremamente calmos. Era bonito, com cabelos compridos presos em uma trança. Paulo achou estranho que ele estivesse vestido tão bem para aquela tarde quente.
- Ela – disse o sujeito, apontando um dedo para a porta – sua secretária, não estava, então não pude me anunciar pelos meios comuns. – e deu um sorriu enigmático.
- Sou Azhael – ele ofereceu um aperto de mão - Lúcio Azhael.

Paulo esitou um pouco analizando o rapaz estranho, de nome estranho... seria descendente de judeus? - finalmente o cumprimentou, dizendo seu nome e convidando-o a sentar numa das cadeiras de frente para sua mesa de trabalho.
- Posso ajudá-lo, Lúcio?
- Acredito que sim – recostou-se na cadeira unindo os dedos das mãos - desde que fique com o seu nariz metido entre estas máquinas e deixe de conversar com as árvores. – Falou o estranho e Paulo ficou primeiro perplexo pela frase claramente ameaçadora, embora dita de forma neutra, quase gentil. Depois porque não entendeu aquela conversa estranha. Fitou os olhos do sujeito. De que diabos essa cara está falando? Eu não falo com árvores!

Mas, como uma luz forte sobre seus olhos, viu-se revivendo o ocorrido na praça das árvores, no bosque da universidade... E se deu conta que alguém também vira a moça, ou seja, ele deduziu que o sujeito estranho estava falando da mulher na praça. Espere, não conversei com árvore nenhuma, e sim com aquela mulher...
- Aquela mulher não é assunto seu. – afirmou o homem como se pudesse ouvir os pensamentos de Paulo – ela já foi castigada por sua ousadia.
- Espere, espere! Quem é você? Do que está falando? Se for sobre a moça na praça...
- Você terá entendido quando parar para refletir. - disse o homem e levantou-se, parecendo a Paulo que ele fosse mais alto e forte do que pensara. - Vim para avisá-lo e já o fiz, isso só faço uma vez. – e o estranho saiu pela porta calmamente.
Paulo ficou lá, com os cotovelos na sua mesa, perplexo. Agora tudo se complicava ao extremo.

Ou não.


Como se não bastasse um mistério para torturá-lo agora havia outro. Um sujeito estranho, vestido de modo nada conveniente para o clima dessa cidade, entra na sua sala para ameaçá-lo por algo que ele mesmo nem sabe do que se trata. Se sua curiosidade em relação à moça da praça estava aguda, agora se tornara quase obsessiva. De modo que resolveu seguir mais firme na investigação e no desvendamento daquela loucura... mesmo não esquecendo a ameaça “gentil” do sujeito elegante.


E às quatro da manhã daquele dia já tinha um plano.


CONTINUA

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