sábado, 20 de novembro de 2010

Minha avó Dalva


Hoje lembrei-me da minha avó.
Alíás, observando bem, as noites de Lua têm muito a ver com isso.
Minha avó era uma amante da noite e da Lua.
Tinha lá tantos mistérios aquela doce senhora. Com seus braços gordinhos, que me puxavam com terna energia, eu garota tímida, vinda da capital.
Apertava-me contra seu corpo macio. Cheiro de natureza, de Terra Mãe. Dizem que o planeta Terra é nossa mãe, mas é a Lua nossa avó. Minha avó, como uma estrela, chamava-se Dalva em toda sua constelação.
"Veja alí eu planto alecrim e artemísia", dizia ela, apontando o grande canteiro do quintal, no idos de um tempo perdido. "Planto tudo que me dão, as pessoas sempre me dão mudas, minha filha."
E me iniciava na mística vegetal de um matriarcado camuflado. A submissão sendo sub-repticiamente burlada pela mistura inocente de ervas e água. "Acalma, a alfazema alcama qualquer homem brabo". E dava uma gargalhada gostosa, a qual dela herdei, assim como essa juba de leonina.

Sinto saudade doída da minha vó Dalva, meio mística, meio bruxa, doce. Madrinha.
E quando a saudade é insuportável, quando meu coração está frágil, ela vem. Com a brisa na janela, com um cheiro de alfazema a me tocar:
"Ser feliz é arriscar-se. Melhor mergulhar no sonho e talvez acordar, do que nunca sonhar."

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