quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O astrólogo


 “Eu sou de Gêmeos. Sígno da constelação zodiacal...”
E danou-se a falar profusamente sobre os astros. Coisas que ele nunca ouvira em sua vida.
Mas vinham dela: as palavras, por certo; os gestos, tão belos; aquela boca, aquela voz, aquela pele...
“De que signo você é?” Perguntava a voz.
“Dizem que sou de peixes”. E tornara-se mudo até o fim. Já que nada conhecia do assunto e, nesses casos, impressiona mais o silêncio do bom ouvinte que a balela arriscada do Don Juan.
O fato é que daquele momento em diante empenhou-se em tornar-se exímio especialista na arte dos astros, nas linhas, quadraturas, triangulações. Nos aspectos favoráveis ou não de Saturno, de Plutão e da Deusa do Amor, Vênus. Leu o que pode em tempo recorde.
Queria impressioná-la para adentrar-lhe a alma de mulher misteriosa. O problema é que ao fim as longas conversas encerravam num simpático “legal conversar com você”.
E ele, sujeito solitário, ficava mais solitário ainda. Solidão que os livros cheios de mapas e cartas astrais não aplacavam. Lia e relia a palavra “astrologia”, lembrando como sua boca se movia ao falar. “És praticamente um astrólogo”.
ASTROLOGO. Ela dizia por dentro de um sorriso constante.
Mas a solidão não amainava com tais lembranças. E, pobre homem, soterrava o corpo e a alma numa agora confusa, difusa solidão, para além da solidão. Se é que isso é possível.
Se antes solitário, agora solitário ao extremo. Descobrira a existência da solidão de fato.
E ela dizia, com despropositada naturalidade “hoje não poderei conversar contigo, vou sair com meus amigos”.  E o que restava a ele era a consulta compulsiva dos astros, os cálculos. Quando não, ouvia música, fingia ler, com sofreguidão coisa nenhuma. Porque nada era ela. Nada nunca foi.
Até que depois de um dia vinha outro dia. E tabelas, e signos e aspectos planetários o levavam ao tesão. De tudo não tinha nada. Contemplava.  Muito.  E isso era tudo... ou nada.
Mas era sujeito persistente, estava em seu mapa astral. Tanto que ao fim de algumas rotações anuais já se poderia considerar um homem realizado: ao menos tornara-se excelente astrólogo!

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