sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vento


Diz-me, vento que sopra forte, penetrando pelas frestas da janela, gritando tão alto.
Diz-me mais baixo, de leve, sem gemido agudo de sofrer.
O que há de vir mais a frente?

Diz-me Vento amigo, porque sopras tão forte por esses dias?
Acaso brigaste com teu amor?
Embora não seja tristeza somente, vê-se em ti uma fúria!
O que tens contra Primavera, tão bela e florida?

Diz-me, que eu seja como uma tua confidente, agora.
Te acalma e diz.
De que vale esse desalento selvagem, se despedaças a delicada flor?
Vê como é com suavidade que tua irmã, Brisa, a todos toca e convida?

Vento que vem de longe, trazendo tantas histórias, conta-me pelo menos uma.
Dos mares turbulentos e gelados do Sul, salpicado de espuma fértil.
Das moças que morrem e viram sereias, das baleias, dos velhos navios que derrubastes...

Vento, será que então, ao invés de nada me contares, podes levar um recado meu?
Já que estás furioso e tão veloz, leva por aí, não sei bem pra onde, um pedido meu.
Divide com todos os teus, a Brisa, a Primavera, o Raio e o Trovão,
Depositas no bico das aves, nas gotas da chuva, nas pétalas das flores, nos grãos de areia,
Uma suplica tão antiga, um pedido que já me parece tão vão...

Diz ao meu amor, Vento, que o Tempo passa correndo e com ele não posso contar.
Ele não escuta, ri-se toda vez que o procuro...
Diz ao meu amor que o aguardo tanto, que estou cansada de esperar.
Aconselha-o ao pé do ouvido, que seja breve em voltar.
Que deixei na janela um velho lencinho, bordado com seu nome - que não sei.
Que faço votos de logo a ele entregar.

Sopras pelas estradas, pelas cidades, pelos rios e pelos mares.
Vento, conto contigo.
Porque o Tempo é remanchoso, porque a Lua é fria e porque a Vida é tão breve...

***

Vento, diga por favor, aonde se escondeu o meu amor...

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