terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Madrugada



Esta triste escrevinhadora perdeu sua avó, vítima de asma.
Amante da vida, a velha e sorridente senhora, dizia que a Madrugada era a mãe do Sol.
A Madrugada, a rainha dos sonhos, do mundo das fadas.
Que eu, menina estranha, viajava para lá em sonhos, pelas portas das estrelas.

Guardei a luz do seu sorriso na face prateada da Lua, irmã do Sol.
Minha avó entendia da noite e do céu estrelado que só tem por testemunha aquele que sobrevive ao convite mortal do sono.
Resista e verás.
Minha avó não se chamava Dalva, à toa. Nome da mais brilhante estrela.

Numa dessas noites estreladas, deixava-me levar em seus braços macios, embalada ao som dos grilos e pelo perfume da laranjeira em flor.
O açúcar dos jasmins, a brisa cálida do sertão e o som distante de alguma viola, formaram o teatro das minhas fantasias juvenis.
Sorte ter uma avó assim, sem artes de cozinha, mas repleta de artes oníricas.

E fui, no barco da noite, guiada pela Estrela Dalva, em busca das terras para além da Terra. Onde não haveria de haver tanto sofrimento, onde, para minha velha alma num jovem corpo, paz e harmonia eram alimento e alento.

E minha avó puxava os fios da imaginação desta sonhadora. Tornando repletas as folhas da minha Árvore, as páginas do meu Livro, de imagens de amor. Um príncipe, belo e doce. Um lar, feliz e próspero. Um trabalho, feliz e tranqüilo.

Minha avó morreu, buscando o ar. Talvez sufocada por não poder viver. Tenho medo da Madrugada desde então.

A Madrugada, entre um dia e uma noite, pode levar-nos...

________________________________
Fragmento do livro que estou escrevendo.

Um comentário:

  1. Passeando aqui me detive nesse. Muito, muito lindo, Luz, gostei de ver no finalzinho q é o pedaço de um livro seu... :)

    Bjos!

    ResponderExcluir