domingo, 27 de novembro de 2011

Meu eu profundo e meu outro eu



Um lado meu está ficando grisalho. Aproxima-se a meia idade, quando a Deusa em mim encontra os dois lados de seu poder com mais propriedade.
Cedo chegará a hora de encarar a prata de muitas luas nos meus cabelos, os sulcos da terra lavrada na minha pele. Aquela mudança no olhar, aprofundamento, de olhar para ver. Aquela nova relação com o tempo.
Caminho mais lento aqui dentro.
Mas com-centração constante, inabalável mesmo quando o corpo se agita. Como as ondas mais frenéticas quebram na margem, enquanto o oceano é plácido, denso, profundo, antigo e sábio em seu íntimo.
E... Desconhecido.
Tempestades ainda assolam, raios e furacões, terremotos e vulcões...
Ainda convulsões.

Mas caminho certo para a serenidade ativa.
Antes, porém a grande decida ainda não terminou.
Caio vertiginosamente.
É preciso tomar decisões definitivas. Mudanças drásticas.
Enfrentar um mal antigo, habitante das mais profundas cavernas do meu ser.
Só eu, sozinha, posso fazer isso.
Estou só, mesmo em meio a tantos amigos e amor.
Estou só e sigo na escuridão e há uma única luz, aquela que cintila placidamente no meio de mim.
Estou indo...
Devo nascer outra vez.
E como isso dói.


ALMA-IRMÃ
(…)

"Um longo, longo silêncio e, então, como se o sonho ainda continuasse, aparece diante dela a imagem radiosa de uma elegante e sublime mulher, de vestes diáfanas em toda a sua glória, e o esplendor da sua alma brilha através de um corpo fulgurante de luz como que iluminando as suas vestes de sedas fulgentes, transparentes e maravilhosas.

-“Quem és tu que vens a mim neste momento de desolação?”

- “Oh, Filha da Luz, eu sou a tua irmã-espírito…
Porque tiveste coragem no momento em que o cordão foi seccionado, e porque te mantiveste fiel à verdade no instante da morte, tenho permissão para estar contigo e entregar-te este botão de flor.

Quando este botão florir, virão libertar-te.”

Ela coloca a mão sobre o ombro da discípula; a força e a glória da Luz que está nela fluem para o seu corpo. E ela conhece então o êxtase e a pureza da verdadeira Visão Espiritual, aquela que, para a poder alcançar a fez permanecer naquela solidão tanto tempo. Jamais ela sentira aquele êxtase na pulsação das suas veias, enchendo assim o seu coração…

- “Não me abandones, fica comigo!”

-“Não poderei ficar, mas dei-te o botão em flor e quando ele florir elas virão”.

E a discípula vê-se só de novo.
(…)
Um prolongado silêncio e, a porta do sarcófago é aberta…
(…)
Ela vê então em sua mão direita o botão a abrir-se e sente o perfume de uma rosa branca e perfeita, a única recompensa que teve, além da lembrança da gloriosa beleza do sonho que sonhou."

In INICIAÇÃO JUNTO AO NILO


Mona Rulfe

Um comentário:

  1. Bonita reflexão, especialmente em um mundo onde envelhecer para a maioria das mulheres representa apenas a maior preocupação com botox e cirurgia plástica. Envelhecer é uma oportunidade de tornar-se cada vez melhor e mais ciente de tudo.

    JOPZ

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