segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Eu gosto de me pintar

Moça araweté pintada de urucum. Foto: Eduardo Viveiros de Castro


Eu gosto de me pintar.

Assim, como quem vai pra guerra. Ou pra festa. Tanto faz...

O que eu gosto mesmo é de me pintar, de me colorir, de me recriar.
Destacar os olhos, como se fazia num longínquo templo nas areias quentes do Egito. Imitando o traçado selvagem dos felinos, um traço acima, um traço abaixo, em longas sinuosas linhas negras. Depois vai cor nas pálpebras.

Como gosto de me pintar.



De demarcar territórios: aqui os olhos, depois as maçãs, por fim a boca...
Pintar-me como as índias. Um traço largo de urucum e pintas de onça com o suco do genipapo.

Gosto tanto de me pintar que a tinta se expande aos cabelos. Tinta não, como diria um amigo meu, coloração. E vou ao delírio das cores!


Vermelho por favor! Sempre pelos rojos!
Parece que me fizeram sem cores, tudo um só castanho sem graça, modorrento. Queria mesmo é ser ruiva e colorida natural: cabelos fogo, olhos céu, pele leite.


Como não sou índia lá na taba, nem ruiva e menos ainda egípcia – infelizmente – compro a coloração e logo o vermelho é parte de mim. O azul vai nas sombras e o rosado nas maçãs. O negro contorna os olhos.
Cigana!
Bruxa!
Mística!
Já me rotularam tanto.
E eu simplesmente gosto de me pintar.

Eu mesma. Foto: Verena Viana

Talvez sejam resquícios de velhas heranças, vai saber...

4 comentários:

  1. Ah, as cores são fantásticas!
    Vibram, mudam o lugar onde de instalam...
    Uau!

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  2. Impossível ler esse texto sem cantar Rita Ribeiro... "Há mulheres que se pintam de caulim, na Costa do Marfim, para o Deus louvar..." =]

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  3. Uau! Que linda a música!
    grata pelo comentário Lolis!
    Beijos

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