terça-feira, 23 de novembro de 2010

Cartas não têm você


Chegavam cartas, todos os dias. Às vezes duas no mesmo dia.
Palavras.
Tão profundas, encrustadas na bela pedra prosaica. As linhas em branco gritando coisas fortes.
Como eu queria...
Como eu te...
Aqui faz frio, ainda é dia. E as cartas se repetindo na eternidade dos instantes.
Recebia-as todos os dias, cumprimentando o carteiro com ar sonolento, cabelo desgrenhado, loucura feroz. O carteiro sempre com piadinhas sobre tantas cartas e tão pouco sono...
E as palavras pulando da folha bela e distante. Falando sobre coisas boas, tornando insuportável sua própria existência.
Como seria bom você aqui... gosto de ti.
As cartas lembram as músicas, as músicas às cartas. Palavras vivas, tão profundas, encrustadas nos gemidos mudos. Reverberando noite a dentro, pelo cofre frio da distância.
E tantas linhas em branco gritando coisas fortes.
Cartas não têm toque, não tem cheiro, não tem você...

2 comentários:

  1. Cartas de amor... será que ainda existem nos tempos do email e msn? Tomara que sim... O cyberespaço é o REINO DO GRANDE VAZIO.

    JOPZ

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  2. Jopz, cartas aqui são meio metáforas, porque mesmo no cyberespaço continuam as palavras, escritas, faladas...

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